Atiradores têm perfil padrão, mas é o mesmo de muitos outros que não fazem mal a ninguém

N.R. Kleinfield, Russ Buettner, David W. Chen e Nikita Stewart


Eles se transformaram em um dos mais notórios e alarmantes tipos de mal. Pessoas que, quando você olha para trás, pareciam isoladas. Não se vestiam direito. Não se misturavam. Nutriam uma amargura que ardia dentro delas. E então pegaram em armas e saíram matando o máximo de pessoas que puderam. Em seguida, surgem as mesmas perguntas: por que ninguém percebeu? Por que não foram detidas?

Agora, essas mesmas perguntas estão sendo feitas sobre Christopher Harper-Mercer, que por motivos ainda não decifrados, matou nove pessoas na Faculdade Comunitária Umpqua, em Roseburg, Oregon, na quinta-feira. Elas também foram feitas sobre o homem que matou nove pessoas em uma igreja em Charleston, Carolina do Sul, em junho. E sobre o homem que matou seis pessoas em Isla Vista, Califórnia, no ano passado. Sobre o homem que matou uma dúzia de pessoas no Estaleiro da Marinha em Washington, em 2013.

E assim por diante.

O que parece indicador a respeito dos assassinos, entretanto, não é o quanto eles têm em comum, mas o quanto parecem com tantas outras pessoas que não causam mal.

Traçar o perfil de um assassino em massa, usando as características que foram identificadas, podem revelar os contornos gerais de um certo tipo de indivíduo. Mas esses contornos não são distintos o suficiente para poderem ser aplicados a inúmeras outras pessoas –o vizinho recluso com higiene precária que nunca fala– que nunca pegarão em uma arma e sairão matando.

“O grande problema é que o tipo de padrão que os descreve também descreve dezenas de milhares de americanos –até mesmo pessoas que escrevem coisas horríveis no Facebook ou na Internet”, disse James Alan Fox, um criminologista da Universidade do Nordeste que estuda e escreve sobre assassinos em massa. “Não podemos prender todas as pessoas que nos assustam.”

Os assassinatos públicos em massa que atraem intensa atenção pública são um fenômeno que em grande parte não ocorria até duas gerações atrás.

Grant Duwe, um criminologista do Departamento Correcional de Minnesota, estudou mais de 1.300 assassinatos em massa que ocorreram entre 1900 e 2013. Dentre eles, ele classifica 160 como sendo tiroteios públicos em massa, que são definidos como aqueles onde pelo menos quatro pessoas são baleadas e mortas em um período concentrado, excluindo aqueles em ambiente familiar ou envolvendo outros crimes.

Aqueles que estudam esses tipos de assassinos em massa descobriram que eles quase sempre são do sexo masculino (todos, com exceção de dois, dentre os 160 casos estudados por Duwe). Muitos são solteiros, separados ou divorciados. A maioria é branca. Com exceção dos atiradores estudantes que atiram em escolas, eles costumam ser mais velhos do que um assassino típico, com frequência na faixa dos 30 ou 40 anos.

A ideologia deles varia. Geralmente compram suas armas legalmente. Muitos exibiam evidência de doença mental, particularmente aqueles que realizam assassinatos em massa aleatórios. Mas outros não, e a maioria das pessoas com doenças mentais não é violenta.

“Eles são deprimidos”, disse Fox. “Não estão fora de contato com a realidade. Eles não ouvem vozes. Eles não acham que as pessoas em que estão atirando são inferiores.”

“Histórico de frustração”

Eles não se encaixam. Só ficam à vontade na companhia de si mesmos. Segundo Fox, assassinos em massa tendem a ser “pessoas em isolamento social com falta de sistemas de apoio para ajudá-las nos momentos difíceis e a verem a realidade”.

“Elas têm um histórico de frustração”, ele prosseguiu. “Elas externam a culpa. Nada nunca é culpa delas. Elas culpam outras pessoas mesmo que as outras pessoas não sejam culpadas. Elas se veem como boas pessoas maltratadas pelas outras.”

Jeffrey Swanson, um professor de psiquiatria e ciências comportamentais da Escola de Medicina da Universidade Duke, disse que esses indivíduos com frequência sentem não fazer parte de algo, mas com frequência vivem em “ambientes de cidade pequena onde fazer parte realmente importa”.

Harper-Mercer exibia sinais desse tipo de isolamento e desespero. Como outros, ele parecia encantado por assassinos em massa anteriores. “Eles os veem como heróis”, disse Fox. “Alguém que tem uma vitória em nome daqueles que estão por baixo.”

Elliot O. Rodger, um estudante universitário da Califórnia de 22 anos, não tinha amigos desde a escola primária. As poucas interações que tinha eram online, enquanto jogava o videogame “World of Warcraft”. Muitos assassinos em massa se interessam por videogames violentos, assim como muitos homens jovens em geral, apesar disso poder ser mais um sintoma de seu isolamento do que a causa de sua violência.

Não muito antes de agir, ele postou um vídeo no YouTube. Ele o mostrava sentado à direção de seu BMW, se queixando de seu isolamento, das mulheres que não demonstravam nenhum interesse por ele e sua decepção por ser virgem. Ele também se queixava sobre todos os homens sexualmente ativos que desfrutavam a vida mais do que ele.

“Tudo levou a isto”, disse Rodger no vídeo. “Amanhã é o dia da desforra. O dia em que me vingarei da humanidade. De todos vocês.”

Em 23 de maio de 2014, ele matou três homens a facadas em seu apartamento, então saiu dirigindo e atirou em três outros de seu carro nas ruas movimentadas de Isla Vista. Após duas trocas de tiros com policiais, ele se matou.

Matando certos estranhos

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Muitos dos assassinos acabam mortos. Não é possível perguntar a eles por que mataram.

A maioria dos assassinos em massa, acreditam especialistas, visa pessoas específicas por motivos específicos. Postagens nas redes sociais ou escritos explícitos às vezes revelam a motivação. Um rancor contra o chefe ou colegas de trabalho. Ou quem quer que esteja no local onde trabalhavam, como no caso dos tiroteios em agências dos correios. Suas mulheres e filhos.

Mas às vezes os motivos são claros apenas para eles. Quem sabe a razão, há quase um ano, para Jaylen Ray Fryberg, um popular jogador de futebol americano de 14 anos, ter atirado contra dois primos e três amigos antes de se matar na lanchonete da escola, nos arredores de Seattle. Quatro morreram.

Ele postou mensagens enigmáticas nas redes sociais: “Isso está me matando. (…) De verdade. (…) Sei que parece que estou tentando me livrar. (…) Não estou. (…) Nunca vou conseguir fazer isso”.

Outros assassinos em massa atacam categorias maiores –um grupo religioso, imigrantes ou mulheres. “Eles podem matar estranhos, mas certos tipos de estranhos”, disse Fox.

Em julho, Mohammod Youssuf Abdulazeez, 24 anos, atacou militares americanos, matando cinco em tiroteios contra duas instalações militares em Chattanooga, Tennessee, antes de ser morto a tiros por um policial.

Dylann Roof, um jovem branco de 21 anos que abandonou a escola e foi acusado da autoria do massacre em junho de nove negros na Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel, em Charleston, tinha registrado um site onde postou um discurso de quatro páginas sobre sua busca pela supremacia branca.

A variação menos comum, porém mais assustadora, é o assassinato público indiscriminado. Quando as pessoas morrem por estarem por acaso onde o assassino estava. Elas simplesmente entraram no caminho dele.

Quão doentes mentais?

É possível matar dessa forma e ser são?

Com base em sua pesquisa, Fox acredita que no universo dos assassinos em massa, incluindo os assassinos domésticos, ladrões e assaltantes, a doença mental não foi um fator significativo. “A maioria dos envolvidos em massacres familiares não apresenta doença mental séria, mas sim desejo de vingança”, ele disse.

Mas quando se trata de assassinatos aparentemente indiscriminados como os do Oregon, isso é outro assunto. “Nos casos de agressores puramente aleatórios, é onde você encontra pensamento psicótico. Quanto mais indiscriminado, maior a probabilidade de doença mental séria.”

Duwe, entre seus 160 casos de assassinatos públicos em massa, concluiu que 61% apresentavam problemas sérios de saúde mental, “ou pelo menos apresentavam alguns sintomas indicando que possuíam um”. Esquizofrenia paranoide costuma ser o mal mais comum, ele disse, seguido por depressão.

Pesquisa mostra que pessoas com doenças mentais sérias, como esquizofrenia, depressão séria ou transtorno bipolar, apresentam um risco modestamente mais alto de violência. Mas a maioria das pessoas doentes mentais não é violenta.

Swanson, da Duke, disse que estudos indicam que apenas 7% das pessoas diagnosticadas com doenças mentais podem cometer um ato violento em um ano, “e que isso pode ser algo menor, como empurrar alguém”.

No caso de muitos dos assassinos, os sinais são de ira, decepção e solidão.

“Sim, você tem esses fatores, mas como prevenir?” disse Swanson. “Não dá para sair e prender todos os homens jovens furiosos alienados.”

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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